Como financiar a sua empresa além dos bancos: 10 formas de financiamento alternativo em Portugal

10 formas de financiar a sua empresa para além dos bancos

Já se sabe: as empresas que dependem em exclusivo do crédito bancário enfrentam prazos longos, exigência de garantias e custos crescentes. Mas, felizmente, o ecossistema português de financiamento alternativo amadureceu e hoje oferece soluções adaptadas a todas as fases de crescimento.

quais os riscos do crédito bancário

Neste artigo, vou explicar-lhe o que é o financiamento alternativo, partilhar dez estratégias válidas em 2025 e indicar, passo a passo, como se candidatar a cada uma delas. O objectivo é claro: ajudá-lo a captar capital rapidamente, reduzir impostos e manter o controlo do seu negócio.

Vamos a isto?

O que é “Financiamento Alternativo”?

Chamamos financiamento alternativo a qualquer fonte de capital que não passe por empréstimo bancário clássico. Isto inclui:

  • Subsídios a fundo perdido,
  • Emissão de capital via plataformas online,
  • Adiantamento de faturas,
  • Locação financeira,
  • Ou dívida privada.

Estas vias têm regras próprias, prazos variados e impactos fiscais diferentes, mas partilham duas vantagens: diversificam risco e podem chegar à sua conta muito mais depressa do que um crédito bancário tradicional.

o que é financiamento alternativo

Opções de Financiamento Alternativo em Portugal

Em 2025, as PME portuguesas dispõem de, pelo menos, dez caminhos principais para captar dinheiro fora dos bancos. Alguns dão apoios a fundo perdido (não é preciso devolver), outros vendem participações da empresa (equity) ou antecipam facturas para gerar tesouraria.

A regra comum é começar online: cada via tem um portal oficial, um conjunto de documentos-base (planos de negócio, balanços, declarações fiscais etc.) e prazos bem definidos. A lista seguinte mostra, passo a passo, onde clicar, que ficheiros anexar e o que esperar em termos de custos e benefícios.

1 – Incentivos e Subsídios Públicos (Portugal 2030 / PRR)

O novo quadro Portugal 2030 e o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) disponibilizam avisos para inovação, digitalização e transição verde, com apoios a fundo perdido que podem cobrir até 50% das despesas elegíveis. Estes concursos colocam mais de 3 000 milhões de € a abertura só em 2025.

Como avançar:

  • Criar conta no Balcão dos Fundos e ativar a “área do promotor”;
  • Filtrar “Avisos Abertos” e descarregar o aviso completo para confirmar critérios e percentagem de apoio;
  • Anexar estudo de viabilidade (CAPEX, EBITDA pós-projecto) e orçamentos detalhados em PDF;
  • Submeter candidatura e responder a pedidos de esclarecimento em 10 dias úteis.

Quando aprovado, o subsídio reduz a necessidade de endividamento e a parte que fica a cargo da empresa continua a ser custo dedutível no IRC, gerando dupla poupança fiscal

ortugal 2030 e PRR dão apoios a fundo perdido que podem cobrir até 50% das despesas elegíveis

2 – Crowdfunding e Crowdlending

Nesta modalidade a empresa apresenta o projecto numa plataforma online (ex.: PPL, Seedrs, GoParity) e muitos pequenos investidores contribuem com quantias a partir de 10€; a lei portuguesa e o regulamento europeu limitam a 5 milhões de euros por campanha

Como avançar:

  • Confirmar se a plataforma (Seedrs, PPL, GoParity) consta da lista autorizada da CMVM;
  • Produzir vídeo-pitch e página de campanha com objetivo, tranche mínima e prazo;
  • Cumprir KYC/AML dentro da própria plataforma e publicar relatórios trimestrais pós-captação.

O crowdfunding reforça visibilidade da marca e não exige hipotecas, mas obriga a divulgar objectivos e resultados publicamente — transparência que pode ser desconfortável para quem prefere confidencialidade.

3 – Peer-to-peer Lending

Plataformas como Raize e GoParity concedem crédito empresarial entre 10.000 € e os 250.000 € com decisão em 24 a 48 horas, usando scoring algorítmico.

Como avançar:

  • Fazer registo, carregar IES e demonstrações financeiras;
  • Receber proposta de taxa (7 a 9% a três anos) e aceitar online;
  • Amortizar via débito direto, mantendo rácios DSCR acordados.

É uma solução ideal para tesouraria imediata. Porém, as taxas aumentam se os indicadores se deteriorarem; e o montante máximo é mais baixo que num crédito bancário clássico.

Peer-to-peer Lending: plataformas como Raize e GoParity concedem crédito empresarial entre 10.000 € e os 250.000 € com decisão em 24 a 48 horas, usando scoring algorítmico

4 – Business Angels

Os angels são investidores privados que colocam dinheiro próprio (até 500 mil euros) e partilham rede de contactos em troca de 10 a 30 % de participação. Um exemplo: a rede Investors Portugal organiza sessões de pitch presenciais e online todos os meses.

Como avançar:

  • Preparar um pitch-deck de 10 slides com problema, solução, mercado, equipa e projecções;
  • Submeter candidatura a um Pitch Day da Investors Portugal;
  • Negociar term-sheet (avaliação, direitos de preferência, cláusulas de saída).

Lembre-se que, além do cheque, o Business Angel abre portas comerciais e acelera validação de produto — mas implica diluição e reporting mais intenso.

5- Capital de Risco & Private Equity

Fundos como a Blue Crow ou Bynd VC III levantaram 40 milhões de euros para apostar em IA e sustentabilidade, com foco preferencial em start-ups portuguesas em fase seed.

Como avançar:

  • Enviar one-pager (resumo do negócio) para a gestora; se houver interesse, abrir data-room com métricas chave (MRR, churn, LTV);
  • Passar pela due-diligence (avaliação legal, fiscal e ambiente) e assinar acordo de investimento.

O capital de risco injecta montantes elevados e costuma trazer gestão profissionalizada, mas implica diluição relevante e metas de crescimento ambiciosas impostas pelo fundo.

6 – Direct Lending / Private Debt

Um exemplo prático: a Linha Capitalizar Mid Caps do Banco Português de Fomento financia projectos até 25 milhões de euros, a um prazo máximo de 12 anos.

Como avançar:

  • Solicitar proposta ao BPF ou a fundos privados (Iberis, Alteria);
  • Entregar pack de covenants (condições financeiras): como EBITDA mínimo 2 milhões de euros e rácio dívida/EBITDA abaixo de 3;
  • Negociar garantias ou seguro de crédito, se exigido.

Trata-se de dívida não dilutiva e com maturidades longas; falhar os covenants pode, contudo, activar penalizações ou exigir reembolso antecipado.

7 – Factoring & Invoice Discounting

Vender facturas a uma sociedade de factoring permite adiantar até 90% do valor em 24 horas; no âmbito desta prática, a ALF reporta recorde histórico em 2023, com 44 mil milhões de euros de facturas cedidas.

Como avançar:

  • Enviar lista de clientes e prazos de pagamento à empresa de factoring.
  • Assinar contrato-quadro; receber adiantamento imediato;
  • Quando o cliente paga, a sociedade abate o valor em dívida e devolve o remanescente, menos comissão.

Porque interessa: liberta tesouraria sem aumentar dívida bancária — mas, se a cessão for “com recurso”, a empresa cobre incobráveis.

8 – Leasing & Sale-leaseback

O leasing financia 100% de um ativo (viatura, máquina) e permite deduzir todas as rendas em IRC; não paga Imposto do Selo sobre juros, segundo a imprensa económica

Como avançar:

  • Pedir cotações a três locadoras (Santander, BNP Paribas Factor, DLL);
  • Comparar TAN, entrada inicial e valor residual; escolher leasing financeiro ou operacional;
  • Deduzir 100% das rendas como custo e recuperar IVA em viaturas comerciais.

Esta solução baixa o imposto e preserva liquidez, mas implica custo total superior se o activo desvalorizar rápido ou se não exercer opção de compra.

Leasing & Sale-leaseback: o leasing financia 100% de um ativo (viatura, máquina) e permite deduzir todas as rendas em IRC; não paga Imposto do Selo sobre juros, segundo a imprensa económica

9 – Microcrédito & Finicia

O programa Finicia (IAPMEI) disponibiliza até 25 mil euros com garantias de 75% via sociedades de garantia mútua, destinado a start-ups e micro-negócios.

Como avançar:

  • Registar-se em iapmei.pt → Finicia; carregar plano de negócio simplificado;
  • Entregar candidatura ao banco protocolado; após aprovação, assinar contrato com SGM.

É uma porta de entrada para quem não tem histórico de crédito; os montantes são modestos e as taxas seguem o risco microempresarial.

Como funciona o Microcrédito Finicia?

10 – Fintech híbrida (equity + debt)

Plataformas como a Five Credit ou a SeedBlink montam rondas que combinam venda de participações e obrigações convertíveis, enquanto a HeavyFinance financia projectos agrícolas e gera créditos de carbono.

Como avançar:

  • Cumprir KYC, submeter “deal room” e definir tranche de equity versus dívida;
  • Publicar KPIs trimestrais para desbloquear tranches futuras ou converter a nota.

É flexível e paneuropeia, mas exige transparência digital permanente e aceitação de investidores espalhados por vários países.

Ou seja!

Escolher o caminho ideal requer alinhar prazo, custo efectivo e consequências fiscais com o estágio do negócio. Ao combinar, por exemplo, um incentivo Portugal 2030 para CAPEX e factoring para tesouraria, uma PME consegue reduzir o custo médio de capital, manter liquidez e ainda beneficiar de majorações fiscais nas rendas de leasing.

Antes de submeter qualquer candidatura, valide sempre enquadramento contabilístico com o seu contabilista, garantindo que cada euro captado se traduz numa vantagem competitiva sustentável.

Vantagens e riscos do financiamento alternativo

Na prática, “financiamento alternativo” significa substituir parte dos empréstimos bancários por apoios públicos, plataformas digitais ou investidores privados. A grande vantagem é a rapidez ou o dinheiro não reembolsável:

  • Um subsídio Portugal 2030 cobre até metade do investimento e não gera dívida;

  • Enquanto o factoring deposita até 90% da factura em 24 horas, melhorando o saldo de tesouraria;

  • Outras modalidades trazem conhecimento de mercado: os Business Angels, além do capital, por norma ajudam a encontrar clientes e fornecedores.
vantagens do financiamento alternativo

No lado dos riscos, há sempre uma contrapartida:

  • Vender participações a um Business Angel significa ceder 10 a 30 % do capital e partilhar decisões;

  • O crowdlending (empréstimo P2P) cobra juros mais altos se a empresa falhar metas financeiras; o próprio regulador avisa que o risco de incobrável é elevado;

  • Já a candidatura a incentivos públicos exige um dossiê detalhado e meses de espera; se falhar a execução das metas, o subsídio pode ser parcialmente devolvido

Por isso, antes de escolher, é vital comparar custo total, tempo de obtenção e obrigação de prestação de contas.

desvantagens do financiamento alternativo

Como escolher a solução certa

Muitos empresários perguntam-se: “qual é a melhor solução para mim?”. A resposta depende de quatro perguntas simples:

  1. De quanta verba precisa e para quê?

    • Até 300 000 € para pagar fornecedores rapidamente? O factoring ou o P2P resolvem em dias;

    • Precisa de um milhão para comprar novas máquinas? O leasing financia 100 % do equipamento e permite deduzir as rendas em IRC.


  2. Com que urgência?

    Factoring e P2P libertam dinheiro em menos de uma semana; incentivos Portugal 2030 demoram 3-6 meses da candidatura ao 1.º pagamento Portugal 2030.


  3. Quer ou não quer sócios novos?

    Se não quiser diluir capital, evite Business Angels ou equity crowdfunding; opte por subsídio, leasing ou dívida privada.


  4. Qual é o impacto fiscal?

    As rendas de leasing são 100% custo dedutível e a parte não coberta pelo subsídio mantém-se dedutível em IRC.
como escolher o financimento alternativo certo

A decisão final deve equilibrar estas quatro respostas. Uma solução possível é combinar: usar leasing para as máquinas, factoring para o giro de caixa e um subsídio Portugal 2030 para ensaios de I&D. Assim, a empresa obtém liquidez imediata, reduz impostos e não entrega participações societárias.

Exemplo Comparativo

Imagine uma PME que precisa de 250 000 € para modernizar a produção. Quatro caminhos foram analisados:

Neste cenário, o gestor optou pelo leasing: garantiu o equipamento em tempo útil, deduz todas as rendas e evita juros altos ou cedência de capital. O factoring ficou como “plano B” para resolver picos de caixa; e o crowdlending foi descartado pelos custos de juro. O Business Angel ficou em espera para uma futura fase de expansão comercial.

FAQ

Crowdfunding paga IVA?
Não; trata-se de captação de capital, mas exige reporte contabilístico nos termos da Lei 102/2015.

Crowdfunding paga IVA?

Qual é o limite legal do crowdfunding?
5 milhões de euros por projecto conforme o Regulamento UE 2020/1503.

Factoring aumenta o endividamento?
Em SNC pode ser “off-balance” se o risco de cobrança for transferido para a sociedade de factoring.

Juros do leasing são dedutíveis?
Sim, as rendas incluem capital e juros, ambos custos fiscais, e não incidem Imposto do Selo sobre juros.

Sabia que juros de leasing são dedutíveis?

Existem linhas públicas de dívida privada?
Sim, a Linha Capitalizar Mid Caps do BPF oferece prazos até 12 anos com garantia parcial.

Conclusão

Financiamento alternativo é hoje uma peça essencial da estratégia de capital das empresas portuguesas. Ao combinar incentivos públicos, plataformas digitais e instrumentos como leasing ou factoring, consegue-se reduzir custo médio de capital, acelerar o acesso a fundos e optimizar impostos.

Antes de avançar, avalie cuidadosamente riscos e obrigações de reporte e fale com o seu contabilista, para assegurar que cada euro financiado se traduz numa verdadeira vantagem competitiva. Se precisar de ajuda, lembre-se que estamos aqui para apoiá-lo na tomada de decisão!

Outros artigos
Startups portuguesas já podem usufruir de Estatuto de Startup (e ter benefícios fiscais)
Heranças, “divisas” e quinhões hereditários: guia para recuperar IRS pago a mais
Contribuições para a Segurança Social: Diferenças entre Sócios-Gerentes Remunerados e Não Remunerados
Quanto custa um trabalhador à sua empresa?
Como financiar a sua empresa além dos bancos: 10 formas de financiamento alternativo em Portugal
Como Reduzir Impostos e Atrair Talento com Seguros de Saúde e Vida Pagos pela Empresa
Compartilhe